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Entrevista GEG – Reabilitação de Passagens Hidráulicas

16 Julho, 2021

José Luís Barbosa – Diretor de Departamento de Estruturas Especiais, no GEG – falou connosco sobre um projeto de reabilitação de três obras de arte na região de Fafe, onde se adotou uma solução inovadora.

Quando ouve o termo obras de arte, a primeira coisa que lhe vem à cabeça, talvez seja Da Vinci, Picasso, Monet e provavelmente a última coisa que lhe vem à cabeça são  infraestruturas ligadas às rodovias. Certo? Não, se forem engenheiros. O GEG tem uma vasta experiência no sector rodoviário, tendo levado a cabo vários projetos de estruturas e fundações de obras de arte. As obras de arte que trazemos  a esta entrevista podem não ser de grande dimensão, mas são de extrema relevância no contexto hidrológico e de manutenção da rodovia. Em projetos de qualquer dimensão, o GEG aplica o seu engenho e sabedoria na busca de soluções inovadoras e eficientes, que busquem atingir com sucesso os objetivos finais do cliente.

G: Qual é o objetivo principal deste projeto? 

JL: Este projeto foi ganho no âmbito de uma consulta prévia em que a entidade adjudicante convida diretamente pelo menos três projetistas a apresentar proposta. . O cliente Infraestruturas de Portugal faz periodicamente uma inspeção das infraestruturas ligadas às rodovias. Neste caso, em concreto, o problema foi identificado na zona de Fafe, na estrada nacional EN206. Tratam-se de 3 Passagens Hidráulicas (PH) em tubo de aço corrugado que se encontravam em estado de conservação nada satisfatório – em todas elas detetou-se corrosão e delaminação das chapas de bancada, mais acentuada nas zonas em contato com a água. Com base nesta análise inicial, o cliente decide quando e onde vai intervir e foi por esta razão que lançaram esta consulta. A anomalia motiva e justifica a reabilitação para prevenir a evolução das patologias e repor as condições de segurança de exploração da infraestrutura

G: Já havia uma relação prévia com o cliente? 

JL: Sim, a IP é um cliente público de longa data. As Infraestruturas de Portugal, já nos conhecia e tinha sido nosso cliente noutros projetos e noutros sectores/serviços.

G: Este tipo de projetos acontecem mais a nível nacional ou internacional? 

JL: Este tipo de projetos têm aparecido mais no contexto do mercado nacional e tem uma razão de ser nestes últimos anos. Os finais dos anos 90, meados dos anos 2000 foram os anos do grande crescimento da construção de novas autoestradas e vias rápidas em Portugal e o GEG acompanhou muito esse crescimento, elaborando na altura vários projetos de engenharia. O que acontece é que nessa altura era muito usual usar-se para este tipo de obras de arte – passagens hidráulicas – soluções em chapa de aço corrugado.  Esta solução era escolhida pelos construtores por ser  económica e prática de executar, mas a questão é que tinham uma data de validade: como não era habitual fazer-se uma proteção específica adicional ao tubo metálico, estas obras estão agora a dar bastantes problemas de segurança estrutural e isto está acontecer a muitas delas, ao mesmo tempo. A água ao passar constantemente nas chapas em conjunto com os detritos por ela arrastados, tira-lhes por completo a galvanização que continham e isso, com o tempo, vai agravando o processo de corrosão das chapas podendo, em situações de degradação mais avançadas causar o colapso da estrutura e consequente abatimento de toda a zona circundante, tornando a via intransitável, o que pode acarretar algum dano ambiental também. Neste caso, pode-se ver na fotografia o local da corrosão das chapas de bancada.


G: Porque a designação de “obras de arte”?

JL:  Obras de Arte é uma espécie de gíria dos engenheiros. O departamento que agora encabeço já foi denominado de Departamento das Obras de Arte. Todas as infraestruturas ligadas aos transportes são designadas de obras de arte.


G: Existe no GEG um portfolio de obras semelhantes? 

 JL: Sim, sim. O nosso portfolio é extenso neste tipo de projetos. De facto, estivemos, inclusive envolvidos, em projetos de reabilitação de PHs que se encontravam em pior estado de conservação e cujo desgaste tinha mesmo causado ruturas parciais da própria estrutura e abatimentos na estrada. Foram situações mais urgentes que precisavam de intervenção imediata. Neste caso, as obras não estavam em tão mau estado que justificasse uma intervenção tão rápida, o que nos permitiu fazer, em conjunto com o cliente, uma intervenção mais programada.

 

G: Qual a maior dificuldade de execução deste projeto? 

 JL: Não diria dificuldades, encontrámos sim algumas condicionantes. A primeira teve a ver com perceber se era possível reabilitar a obra existente ou se teríamos que fazer uma nova.  Se fosse uma nova obra, implicaria desvio da linha de água e fortes condicionamentos na circulação da via, situações menos desejáveis. 

O reaproveitamento da estrutura existente passou por colocar um novo revestimento estrutural  no seu interior. O que implicou conseguirmos garantir, de antemão, que o caudal de dimensionamento (durante uma cheia) não ficaria incapacitado de passar por esta secção agora mais reduzida.  Os Estudos Hidrológico-Hidráulicos são determinantes na garantia de uma suficiente capacidade de escoamento dos caudais de dimensionamento nestas obras intervencionadas.

Muitas vezes, para além do problema de corrosão, este tipo de estruturas podem também apresentar deformações elevadas quando o aterro envolvente é mal executado. Esta construção tem que ser feita com base no equilíbrio de pressões e se for deficiente a estrutura pode deformar-se acima do permitido. Felizmente, isto não se verificou neste projeto.

G: O que é destacas de positivo neste projeto? 

 JL: A solução encontrada para uma das estruturas, a de menor diâmetro, foi uma solução inovadora: fizemos o encamisamento interior com recurso a tubos plásticos reforçados com fibras de vidro. Este material, PRFV, alia resistência à leveza, permitindo acelerar o faseamento construtivo e utilizar equipamentos de menor porte.

 Esta solução surgiu da nossa pesquisa de mercado por soluções alternativas, onde encontramos a empresa AMIBLU que já trabalhava com este tipo de material, e deu todo o apoio necessário ao desenvolvimento e detalhamento da solução a aplicar.

 

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